CARTA-AJUDA AO PRESIDENTE - 29/09/2010
Senhor presidente da República Federativa do Brasil,
Com todo o respeito ao cargo que ocupa – e somente ao cargo – quero dizer que o senhor nunca foi considerado um presidente por mim. Respeito a hierarquia dos cargos, mas meu bom senso nunca me permitiu admirar-lhe como representante. Sei que pode ser duro dizer uma coisa dessas assim de forma tão direta; mas estou sendo sintônico e leal.
Sei fazer a diferença entre simpatia, admiração e antipatia. Sei separar o cidadão de seus atos e falas. Porém minha manifestação é espontânea e tem um objetivo: ajudá-lo a refletir!
Entendo ideologias, preferências e “modos-de-ser” como direitos constitucionais. São inalienáveis e insubstituíveis enquanto estatutos de cidadania, como a liberdade de pensar e expressar-se. Como psicoterapeuta sei que – dentro dos limites individuais – tento ajudar os que me solicitam ajuda e se encontram confusos com suas próprias idéias, embora não tenha solicitado qualquer ajuda a mim. Por razão meramente solidária resolvi escrever essa carta.
Não sou proprietário da Verdade, apenas usufrutuário temporário das minhas próprias reflexões. Nenhuma intenção em influenciar idéias, crenças ou ideologias. Apenas uma tentativa de dialogar; de mostrar também que como representado formal, seus comportamentos me dizem respeito.
Compreendo sua origem humilde em Caetés e as enormes dificuldades que deve ter enfrentado durante sua vida; a separação dos pais e a quebra da unidade familiar em idade tão precoce. Estou acostumado a ver isso no meu trabalho posto que sempre lidei com todo o espectro social e compreendo os transtornos que isso pode causar ao desenvolvimento das personalidades em desenvolvimento.
Penso nas as diferenças de classes que surgiram com a emergência da “mais valia” - desde o tempo em que o homem iniciou seus estoques de alimento e se tornou sedentário – tendo que vigiar esses bens e utensílios para partilhá-los entre seus membros produtores; elas podem ter originado o que, hoje, estimulou a emergência das ideologias com base no capital acumulado.
Mas o meu objetivo é outro: “falar para um cidadão que conhece estratégias de sobrevivência”. Não acredito em conselhos, mas em diálogo; prefiro me ater a reflexões úteis. Embora reconheça as injustiças sociais – e tendo na juventude simpatizado com idéias socializantes – percebo que há meios não-gramscinianos mais atuais e eficazes – embora mais lentos - de lidar e alcançar objetivos realistas no campo da justiça social.
Sei que toda essa minha conversa pode despertar certa desconfiança (esquizoidia) nas pessoas que a lêem. Mas estou jogando aberto e esse deve ser o jogo. Não acho que o método utilizado atualmente pelo governo possa alcançar o objetivo universal do direito de “apropriar-se dos bens produzidos”. Veja o comportamento dos empresários gananciosos: eles ficam com a “mais valia” e esquecem-se de partilhá-la com seus conviventes, certo? Eu mesmo tenho dúvidas, não sei se sou um “socialista diferente” ou um moralista confuso. Falando em Ética e métodos, certa vez escrevi um trabalho intitulado “Viver eu quero... Conviver é preciso...!”, ainda continuo acreditando nisso. Talvez seja uma utopia pessoal.
Fiquei impaciente quando minha mulher e meus filhos votaram no senhor em 2002, porém respeitei a decisão deles. Em 2006 todos votaram contra, inclusive a faxineira; não porque interferi, mas porque perceberam que seu governo não os convenceu. No dia 03/10/2010 todos votarão contra a sua candidata. Vizinhos, amigos e outras pessoas que conheço farão o mesmo. Com isso quero dizer que quem engrandece um país não é um presidente, mas cidadãos conscientes de seus direitos e deveres. Um presidente é apenas um representante que não deve se mover por sentimentos de ódio e rancor – sentimentos destrutivos que nada constroem. A consciência de um povo é maior do que o Estado e muito maior dos que o representam.
Gostaria que o senhor compreendesse que a hegemonia é mera utopia, um simples desejo; uma forma de limitar a Liberdade. A diversidade e a complexidade que mobilizam os desejos de um povo são variáveis grandes demais para caber num projeto de poder. Necessitam, porém, de uma elite que saiba compreender e governar essa complexidade. Eu sei que isso é difícil posto que a democracia não é apenas o desejo do povo, mas a arte de consensualizar esses desejos. A capacidade de um governo é proporcional a sua capacidade de respeitar as instituições e submeter-se às críticas de todos que as aceitam como regra legal. Suas diferenças, suas preferências e expectativas devem caminhar pela rota da realidade possível e guiadas pela sabedoria.
Acompanho o comportamento político das pessoas – e dos representantes públicos - desde os meus dezesseis anos de idade. Hoje tenho sessenta e seis. Fatos ocorridos no âmbito nacional e internacional sempre se constituíram matéria do meu interesse pessoal por se constituírem de fatos gerados por idéias e comportamentos. E essa é a minha grande curiosidade!
Porém, desde a República Velha, não tenho conhecimento de um presidente que tenha recebido mais cartas do que o senhor. Elas embutem teores diversificados que vão desde elogios e apoios, passam pelos insultos e pelas criticas construtivas e destrutivas. Sua primeira carta – a Carta aos Brasileiros – pode ter motivado essa avalanche, por se constituir num acordo formal de equilíbrio econômico. Suas palavras sobre o “medo e esperança”, na época, funcionaram como uma mensagem de confiança para todos nós.
O senhor não pode perder essa oportunidade de, sendo um brasileiro de origem humilde, elevar o nome da nação a um patamar que possa servir de exemplo - para os descendentes - que se inicia nas idéias e se cristaliza nos atos. Agora, algumas sugestões:
· Sinta-se como um brasileiro igual a todos nós.
· Pense que todos os brasileiros gostariam de ouvir do senhor as verdades da realidade concreta que percebem.
· Faça por onde reabilitar sua imagem como líder e formador de opinião para servir melhor a todos nós.
· Não se sinta inferiorizado por pertencer a uma classe pouco instruída; incentive o conhecimento e a leitura; divulgue os bons sentimentos, princípios e valores, necessários que são a uma convivência cada vez mais justa.
· Procure ajuda que possa redirecionar seus talentos e capacidades para transformá-los em atitudes positivas e benéficas para si e para seu povo. Digo isso porque acredito na sua inteligência e na sua capacidade de comunicação popular
Espere que não leve a mal a minha contribuição e minha vontade de ajudá-lo. Creia que – sem qualquer intenção golpista – esse é o meu autêntico desejo. Também sou brasileiro e nasci de família pobre. Só estou tentando ajudar...
Do cidadão que reafirma não considerá-lo ainda um verdadeiro presidente, mas, por enquanto, um cidadão do qual possa um dia me orgulhar.
Respeitosamente,
Luiz Gonzaga de Freitas Filho
PS: - Carta enviada a vários blogs e sites e por mail.